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  • Foto do escritorPaulo Taborda

Creatina causa queda de cabelos e calvície?

A creatina (ácido metilguanidina-acético) é um suplemento muito utilizado por esportistas e praticantes de musculação que pode resultar em elevação do hormônio diidrotesteosterona (DHT) que é o principal responsável pelo afinamento e perda de cabelos presentes na calvície. Naturalmente formada em nossos rins e fígado a partir dos aminoácidos arginina, glicina e metionina, a creatina também passou a ser consumida como suplemento dietético por muitos atletas e esportistas. Com mais de 500 publicações cientificas sobre a suplementação de creatina, poucas delas se referem a controvérsia de que a creatina intensifique a queda capilar e exacerbe a calvície. Mito ou verdade?


No estudo de curta duração de Merwe et al. (2009) jogadores universitários de rugby suplementaram sua dieta com creatina (fase de carga de 25 g/dia por 7 dias, seguidos pela fase de manutenção de 5 g/dia por mais 14 dias) e apresentaram um aumento nos níveis sanguíneas de DHT; mais especificamente a DHT aumentou 56% após o período de sete dias e depois permaneceu 40% acima dos valores basais após o período de manutenção de 14 dias, quando comparados com os indivíduos que consumiram um placebo (50 g de glicose por dia durante 7 dias, seguido de 30 g/dia por 14 dias). Dado que as alterações hormonais, particularmente DHT, foram associadas a algumas ocorrências de perda de cabelo/calvície uma hipótese de que a suplementação de creatina levaria à perda de cabelo e calvície ganhou fama.


A DHT é um metabólito da testosterona, formado quando a enzima 5-alfa-redutase converte a testosterona livre em DHT na próstata e no couro cabeludo. Em graus variáveis de acordo com predisposição genética de certos homens a DHT pode se ligar a mais receptores de andrógenos nos folículos pilosos suscetíveis a calvície, antecipando e intensificando, então, a perda de cabelos. No entanto, para aumentar a controvérsia, apesar do aumento da DHT no estudo de Merwe et al. nenhum aumento na testosterona total foi encontrado nos 16 homens que completaram o estudo, e a testosterona livre não foi medida. Além disso, o aumento de DHT e a relação DHT:testosterona permaneceram dentro dos limites clínicos normais. Além disso, na linha de base (antes da suplementação), o DHT era 23% menor no grupo creatina (0,98 nmol/L) em comparação com o grupo placebo (1,26 nmol/L).


Assim, o pequeno aumento de DHT no grupo creatina (+ 0,55 nmol/L após 7 dias de suplementação e + 0,40 nmol/L após 21 dias de suplementação), em combinação com uma pequena diminuição na resposta placebo DHT (-0,17 nmol/ L após 7 dias de suplementação e -0,20 nmol/L após 21 dias de suplementação) explicaria o aumento “estatisticamente significativo” em DHT observado por Merwe et al. Embora seja possível que a suplementação de creatina tenha aumentado a atividade da 5-alfa-redutase nesses homens (potencialmente explicando o aumento da formação de DHT), nenhum estudo foi prolongado para avaliar especificamente a queda de cabelos e a calvície em humanos.


Até o momento, 12 estudos de curto prazo investigaram os efeitos da suplementação de creatina (ou seja, doses variando de 3-25 g/dia por 6 dias a 12 semanas) sobre os níveis de testosterona: dois estudos relataram aumentos pequenos que podem ser fisiologicamente insignificantes na testosterona total após seis e sete dias de suplementação, enquanto os dez estudos restantes não relataram nenhuma alteração nas concentrações de testosterona. Em cinco desses estudos a testosterona livre, que o corpo usa para produzir DHT, também foi medida e nenhum aumento foi encontrado. O efeito da creatina sobre a elevação da taxa de conversão de testosterona para DHT permanece em debate.


Em resumo, novos estudos são necessários, pois a soma das evidências atuais em estudos de curta duração não permite ainda determinar irrefutavelmente se a suplementação de creatina aumenta a testosterona total, a testosterona livre, a DHT ou se causa ou não diretamente queda de cabelos e calvície. Isto permite concluir que a abordagem atual deva ser criteriosa e analítica para interpretar as queixas capilares de cada esportista que decide realizar a suplementação com creatina para receber orientação dermatológica em função de sua eventual predisposição genética a calvície.


1- Clin J Sport Med. 2009 Sep; 19:399-404.


2- Plast Reconstr Surg Glob Open. 2013 Oct; 1(7): e64.


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